sábado, 10 de maio de 2008

A Amazônia é nossa?




O mundo está de olho na Amazônia, todos querem que ela seja riqueza mundial. Depois da Guerra Fria houve uma retomada à discussão de “internacionalização da Amazônia”. Agora a situação pode ter sido amenizada pela crise no Iraque e um possível desvio do foco de atenção. Mas brevemente é possível que as atenções transfiram-se do petróleo para a água. No próximo século a escassez trará uma super-valorização.
As riquezas naturais no local são muitas: sementes, variedade de fauna e flora e principalmente minerais. A riqueza amazônica não está só sobre o solo, mas também sob ele. E o mais complicado, muito do que está ali não está ao controle de nossos olhos. O que acontece freqüentemente passa pelo roubo de material genético indígena, de mudas de plantas, expropriação do conhecimento popular e desenvolvimento de patentes pelas grandes indústrias farmacêuticas internacionais.
Historicamente, no discurso mundial sempre se falou em trocar as florestas Brasileiras pelo pagamento de dívidas ou proteção internacional. Um fato marcante foi em 1989 quando o então presidente José Sarney foi convidado para uma reunião do G7 que discutiria o tema. Em 1990 o Congresso de Ecologistas alemães propôs que “só a internacionalização pode salvar a Amazônia”. Daí então, concordo e peço permissão para citar Padre Antônio Vieira: ELES NÃO QUEREM O NOSSO BEM, ELES SÓ QUEREM OS NOSSOS BENS.
Alguns dizem que não é preciso internacionalizar a Amazônia, pois ela já está internacionalizada pela presença de capital estrangeiro na região. Embora os militares sustentassem a idéia contra a internacionalização, o período em que mais se entrou capital do exterior na região foi a Ditadura Militar. Não existe uma exploração ostensiva e descarada, mas verdade é que quem se interessa pelo que ali está dali retira sem que tenhamos um controle efetivo. Pois em algumas áreas não se tem presença física de governo nem ocupação populacional. Resgatando fatos: a interiorização do povo brasileiro, saindo do litoral para o centro do país foi estimulada para uma defesa e manutenção do território, que culminou com a criação de Brasília, entre outras motivações. Mas como realizar o mesmo na Amazônia, a ocupação “civilizatória” da região com construção de metrópoles aniquilaria a floresta e as culturas indígenas. Houve tentativas de envio de sem-terras como uma desculpa de reforma agrária. Se devastar a Amazônia pela perspectiva de agricultura e pecuária também seria um crime, além de desmatamento, encontrar-se-ia solos arenosos.
A vulnerabilidade da situação é imensa. O fato de existirem reservas indígenas com certa autonomia de preservação e estatuto próprio abre a possibilidade de discussão internacional no que diz respeito à soberania limitada do governo brasileiro. A presença de fortes de proteção à fronteira freqüentemente entram em conflitos com comunidades indígenas.
As tentativas de proteção à Amazônia são bem intencionadas, mas nada são frente ao interesse do mundo todo. Eu me pergunto se quando as pressões se intensificarem quais as linhas gerais que o próximo governo seguirá em nome de negociações políticas. Até que ponto as relações estáveis com o Brasil são importantes para cada país no cenário internacional. Não duvido que a importância seja grande, principalmente como país chave na América Latina.
Qual vai ser a postura dos negociantes? Será que tudo será resolvido amigavelmente, fazendo concessões até que percamos a Amazônia sem percebermos, ou será que o governo e a sociedade sustentarão a defesa Amazônica até a última instância, mesmo que para isso seja preciso enfrentar uma guerra.
Como deveria ser essa guerra. Do nosso ponto de vista não deveríamos pensar em defesas que não são novas. Os militares muitas vezes pensam nas formas tradicionais, como por exemplo, instalação de fortes. Mas, para defender a Amazônia precisa-se do homem Amazônico, que fará um grande diferencial em estratégias de sobrevivência na selva e táticas de guerrilha, pois contra o inimigo, tecnologia é determinante não é determinação. E quem é o inimigo? Atualmente o EUA é o único país que tem condições militares de ocupar a Amazônia. E então, ocupação é diferente de guerra, pois todas as guerras em que não se angariou apoio popular observaram-se derrotas. O exemplo mais famoso disso é o Vietnã.
O cerco estaria se fechando? Há milhares de ONGs e empresas estrangeiras atuando no Brasil. Há várias bases americanas na América do Sul em pontos estratégicos tais como Venezuela e Colômbia. Enquanto isso, a ONU teoricamente gere negociações amigáveis, mas na prática não devemos nos iludir, ela reflete a posição dos mais poderosos.
Se a guerra vier de fato a ocorrer, poderemos considerar um dos auges da alienação humana em nome de poder, pois pelo que se briga é exatamente as riquezas naturais que estão em questão devido à grande fragilidade do meio ambiente e do planeta Terra, e a guerra viria destruir o que se quer ter.
Um dos maiores desafios geográficos do futuro é a Amazônia. Não há área no mundo internacionalizada, com muita propriedade Cristóvão Buarque, em debate nos Estados Unidos respondeu ao questionamento sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem que o argüiu introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Eis a resposta do ex-governador do Distrito Federal:

"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar o diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as Reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano.
Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA.
Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua historia do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Nos seus debates, os atuais candidatos a presidência dos EUA tem defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir a escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo.
Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!".


Esta matéria foi publicada no New York Times/Washington Post, Today e nos maiores jornais da Europa e Japão. No Brasil ela não foi publicada. A questão é muito complexa para a deixarmos de lado. A mídia tem papel fundamental na situação: influenciar é poder, e portanto, mídia é poder. Falar em Democracia no Brasil é falar em democratização dos meios. Devemos pensar uma recriação de projeto Brasil que será desencadeada por opiniões populares, organizações e governo caminhando de mão dadas, que trate a Amazônia não como uma redoma, mas com grande cuidado. Se pararmos para pensar, pode ser que se encontra aí um ponto fundamental para alterações no curso da história do Brasil e do mundo. Ou será que disfarçadamente a Amazônia já está internacionalizada e será cada vez mais?
Marina Ricciardi

Um comentário:

Kenia Soares disse...

a amazonia tem que ser defendida do Brasil, isso sim!