segunda-feira, 5 de maio de 2008

Drummond e Lispector

- Corrigindo o meu pequeno deslize em citar o "sotaque" lispectoriano! hehe

Clarice Lispector, como Guimarães Rosa, acrescentou de forma extraordinária a escrita brasileira à nossa língua, à "pátria" de Fernando Pessoa. Mas quando falava, pensavam que era estrangeira. E ela, que é uma aurora em nossa literatura, tinha muita dificuldade em pronunciar essa bela palavra.
A minha primeira língua foi o português. Se eu falo russo? Não, não absolutamente.( ...) eu tenho a língua presa. (...) algumas pessoas me perguntavam se eu era francesa, por causa desses meus erres. (Entrevista)
A brasileira Clarice, que só por acaso nasceu em uma cidadezinha da Ucrânia, dominava o inglês e o francês, mas só escreveu em português, a sua, a nossa língua materna e, que se saiba, nunca falou iídiche ou hebraico. Uma vez alfabetizada, tornou-se logo uma leitora voraz.



Clarice
veio de um mistério.
partiu para outro.
Ficamos sem saber a
essência do mistério.
Ou o mistério não era essencial,
era Clarice viajando nele.
Carlos Drummond de Andrade

Bom, aproveitando a deixa, vamos falar um pouco de Drummond!


Mãos Dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.

Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,a vida presente.
C. D. Andrade

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Viver o presente.
Somente o presente.
O poema de Carlos Drummond de Andrade nos mostra isso. Viver o presente, não se apegar ao passado e nem idealizar o futuro.
Os companheiros estão silenciosos mas com esperanças, idéias opostas para mostrar que mesmo com a tristeza (taciturnos: silênciosos, calados, porque estavam tristes), ainda havia esperança, porque o presente é grande e devido a essa grandeza, há esperança!
Não podemos nos afastar, nem dos nossos companheiros, e nem do tempo. O passado, presente e futuro têm que caminharem de mãos dadas!

De acordo com o estudo da lingüística, o passado, e futuro não existem. Pois todas as vezes que nos referimos ao passado e ao futuro, estamos no presente. Sempre que você fala do passado, você não volta nele, e quando idealiza o futuro, você deixa de viver o presente. Tudo é presente, ontem é presente e amanhã é presente. Pois nos referimos a eles no presente, e quando formos viver "o futuro", não será mais amanhã e sim presente.
Mas não existe só presente.
Se não houvesse passado, certamente não haveria o presente. No nosso presente carregamos marcas do passado, não podemos voltar a vivê-lo, é claro, mas as marcas estão presentes.
Não podemos simplesmente excluir o passado e futuro, como alguns linguistas acreditam.

O tempo existe, estando nós contra ou a favor dele. Não podemos ultrapassar o tempo, nem voltar ao que já foi feito. Tudo está mudando. O que existe agora simplesmente não existirá amanhã!
E o velho clichê não desiste de ressaltar : "não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje".


Carolina Zaiat

Um comentário:

th!ago Castro disse...

Estou adorando esse momento cult ou melhor momento não somos cult...
Estou adorando esse blog.